quinta-feira, 19 de novembro de 2009

No Reino da Propaganda!


Foto: Henrique Esteves/Futura Press

Mais um dia normal na cidade do Rio de Janeiro. Entenda-se como normal aquilo que já se tornou comum, diário, na vida da população carioca: a guerra urbana e o descaso das autoridades para com as necessidades da população. Além da utilização do marketing, que tenta a todo custo tapar o sol com uma peneira de mentiras, veiculada por propagandas sedutoras, sejam elas de bebidas alcoólicas ou de puro marketing político.

Ligo a tevê e passo por 3 canais que transmitem a programação local, os RJs. O foco principal é mais um capítulo da novela real protagonizada pela centena de grupos fortemente armados (pistolas, fuzis, metralhadoras, armamento antiaéreo, granadas, ... , por enquanto) versus a polícia do estado e a população. O gozado é que esses confrontos, os mais graves, sempre acontecem quando um grupo tenta invadir a área de outro. Nos dias comuns, todas as bocas de crack e outras drogas ilegais mantêm-se em pleno funcionamento, raramente sendo incomodadas, o que nem sempre acontece com os dependentes, quando saem delas.

Continuando a passar a vista pelos mesmos canais vejo o drama da população humilde na porta de um hospital da Prefeitura. Um senhor de 76 anos diz que esperou mais de 10 horas na fila para pegar um número de consulta. Coisa bem diferente do que nos é mostrado nas propagandas políticas.

É nesse reino da propaganda onde vemos melhor a manipulação e a hipocrisia com que somos tratados. Na política o culto às grandes obras e eventos, como a Cidade da Música ou as Olimpíadas de 2016, que geram fotos, matérias na mídia, desviando a atenção das carências básicas e dificuldades que os brasileiros enfrentam. Na questão das drogas, a indústria do álcool, droga lícita, investindo pesado na ampliação dos seus negócios - a captação de dependentes - não respeita a idade de seus futuros clientes nem a saudável prática desportiva. Vejo isso como um insulto às vítimas, já que essa droga pesada mata e debilita muito mais pessoas do que todas as drogas ilícitas juntas. O que também acontece igualmente no combate a essas drogas.



Por outro lado a mídia não divulga que 146 projetos de lei tramitam simultaneamente na Câmara dos Deputados solicitando restrições à propaganda de bebidas alcoólicas, mas que não saem do lugar. Em outro ponto vemos que um acordo comercial, da Fifa com a indústria da bebida, fará com que afrouxemos nossas leis/regulamentações de restrição à venda de bebidas em estádios e cercanias, durante a Copa de 2014. O poder do dinheiro suplantando nossa soberania e ignorando o lado humano: o das vítimas e familiares dos que perderam a vida, direta ou indiretamente, por causa da bebida alcoólica.

Reparem que hoje eu não vou nem falar do patrocínio dos brahmeiros à seleção brasileira.

Se nosso povo fosse unido e organizado, como deveria ser, faria um boicote pesado às duas próximas Copas, África do Sul e Brasil, patrocinadas com o dinheiro desse entorpecente chamado álcool. Eu, por aqui, já estou boicotando.

Isso tudo fica parecendo papo de cidadão chato e indignado. Talvez certo esteja o ministro ao falar que o Rio não é uma cidade violenta. Na internet, logo abaixo da notícia sobre o novo combate em Vila Isabel, vemos os títulos de algumas matérias relacionadas, coisa de paranóicos cariocas, com mania de perseguição.

Obrigado,

Luiz Fernando Prôa


Leia mais:
- Milícias avançam sobre os morros e já dominam 41,5% das favelas cariocas, aponta Uerj;
- Operações da PM nos morros do Rio prendem 41 pessoas; 33 pessoas morreram;
- Der Spiegel: Brasil e África do Sul, sedes da Copa, usam táticas impiedosas contra o crime;
- Protesto no Rio pede identidade de mortos em conflitos; veja o vídeo;
- Parentes de jovens assassinados no morro dos Macacos vão mover ação contra o Estado;
- "Mexeram num vespeiro", diz morador da 'faixa de Gaza', Rio de Janeiro;
- "Cadê a inteligência da polícia?", questionam moradores da Vila Cruzeiro (RJ);
- El País: "Jornalista, para de tremer; se quiséssemos, você já estaria morto";
- Assimilamos níveis de barbárie cada vez maiores, diz especialista;
- Le Monde: Cenas de guerrilha urbana nas favelas do Rio;
- Especialistas destacam descaso de autoridades e fácil acesso às armas;
- "Favela é mais segura do que Copacabana", diz ex-chefe do tráfico, hoje no AfroReggae;
- No Rio, policial é treinado para se achar um justiceiro, diz coronel.
- Confrontos entre traficantes e policiais em morros do Rio (de janeiro a setembro) já deixaram 805 mortos.
- Zona Norte, do Rio, viveu momentos de guerra civil.
- RIO - Um intenso tiroteio entre traficantes dos morros da Formiga e Borel levou pânico aos moradores da Tijuca, Zona Norte, na madrugada de hoje.

3 comentários:

  1. Matérias complementares ao texto postado, No Reino da Propaganda!


    146 projetos de lei tramitam simultaneamente na Câmara dos Deputados solicitando restrições à propaganda de bebidas alcoólicas

    Projetos de lei que tratam de restrições à propaganda de bebidas alcoólicas tramitam em conjunto, na Câmara dos Deputados, atrelados à proposta de 1994, o PL 4846/94. Apesar de ser nomeada uma comissão especial para analisar os projetos sobre o tema, o trabalho não foi adiante, o que levou o deputado Lincoln Portela (PR-MG) a apresentar o Requerimento 5151/09 para que o presidente da Câmara, Michel Temer, nomeie integrantes para discutir o assunto. Há um total de 146 projetos parados, sendo que alguns incluem também restrições à propaganda de fumo, medicamentos e terapias.

    Durante audiência pública na Câmara, o ministro José Gomes Temporão defendeu a aprovação do PL 2733/08, do Executivo, que proíbe rádios e TVs de veicularem, das 6h às 21 horas, propaganda de bebidas com teor alcoólico superior a meio grau Gay Lussac (GL). Se aprovado, o projeto prevê que cervejas, champanhe e vinho passem a ter as mesmas restrições de propaganda já impostas às bebidas mais fortes, como vodca, cachaça e uísque, que possuem teor alcoólico superior a 13 graus GL. Para o ministro, a medida é necessária para complementar os resultados positivos obtidos com a Lei Seca no trânsito.

    A proposta do Executivo foi muito criticada pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) durante audiência anterior, em junho de 2008, quando seu presidente, Gilberto Leifert, afirmou que as bebidas alcoólicas são produtos lícitos e que as restrições à propaganda ferem a liberdade de comunicação comercial. "A crença de que a proibição da propaganda de um produto
    resolve problemas complexos por mágica é fantasia", argumentou.

    Fonte: Portal da Câmara

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    ABEAD pede que CBF revogue decisão de vender bebidas nos estádios que sediarão Copa de 2014 no Brasil


    A Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD) posicionou-se contra a venda de bebidas alcoólicas durante a Copa do Mundo 2014, a ser realizada no Brasil. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) assinou um documento que altera a regulamentação sobre a venda desses produtos nos estádios brasileiros durante o período da competição, a pedido da Federação Internacional de Futebol e Associados (Fifa). A medida deve-se ao patrocínio da cerveja Budweiser, que possui direito de comercialização de seus produtos no Mundial. A prática contraria a regulamentação da confederação brasileira, que proíbe bebidas nos estádios e regiões próximas.

    Para a ABEAD, a liberação de bebidas alcoólicas nos estádios-sede de 2014 poderia trazer problemas à saúde pública e, principalmente, à segurança dos municípios. A entidade também aponta que o acordo entre CBF e Fifa é meramente comercial, deixando de lado a preocupação com a violência nas cidades que receberão os jogos do Mundial de Futebol. Por considerar que o consumo de bebidas alcoólicas tem reflexos no aumento da violência, a ABEAD solicita que a CBF reconsidere a decisão, tendo em vista a melhor qualidade de vida da população durante o evento.

    Fonte: Blog Uniad

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  2. O Ministério Público de São Paulo quer conseguir a proibição da comercialização de cerveja e bebidas alcoólicas nos estádios do país durante a Copa de 2014, que terá como sede o Brasil.

    Os estádios brasileiros estão proibidos de vender cervejas desde abril de 2008, por decisão conjunta da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) com os ministérios públicos estaduais. Mas a Federação Internacional de Futebol (Fifa) estaria disposta a mudar de opinião e pedir a liberação do consumo durante a Copa por conta do contrato com a cervejaria Budweiser, que prevê venda de bebidas alcoólicas nos estádios, como nas últimas seis Copas do Mundo.

    "O Ministério Público vai brigar com todas as armas para que isso não seja permitido. Não é porque é um patrocinador forte que vai querer mandar e mudar as regras do Brasil", afirmou o promotor Paulo Castilho à Agência Brasil.

    Fonte: Agência Brasil/Blog Uniad

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    48% dos pacientes da 1ª clínica pública para dependentes apresentam vício em mais de uma droga.

    Metade dos pacientes (48%) da primeira clínica pública para dependentes é viciada em mais de uma substância, de acordo com levantamento realizado com os 96 internados na Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas de São Bernardo (Uniad - campus São Bernardo do Campo). As drogas usadas mais comuns são cocaína, crack, maconha, álcool e cigarro. A predominância de múltiplas substâncias se deve ao fácil acesso, adicionada às características de comportamento dos pacientes, associadas à impulsividade e compulsões diversas (sexo, jogos, compras).
    Entre os pacientes, 37% apresentaram grau de dependência grave de álcool e 30% leve. Em 38% dos casos, os pacientes apresentaram grau de problemas relacionados ao uso de drogas em nível severo e 2%, em nível leve. Dos 96 pacientes em tratamento, 75% tiveram alta clínica e apenas 3% abandonaram o tratamento.
    O levantamento mostra que 41% dos internados estavam desempregados, 55% são solteiros, 30% possuem ensino médio completo e 7% têm ensino superior completo. Em relação à situação financeira, 29% possuem renda familiar entre dois e três salários mínimos e 21%, acima de cinco salários mínimos. A faixa etária média dos pacientes é de 34 anos.
    Entre as comorbidades, os pacientes apresentam transtorno afetivo bipolar, transtornos de personalidade, depressão recorrente, esquizofrenia, jogo patológico, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
    O tratamento na clínica é gratuito e os pacientes são encaminhados pelos prontos-socorros, UBS, serviços ambulatoriais, enfermaria psiquiátrica de hospital geral ou Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Os pacientes recebem tratamento multidisciplinar, que conta com terapeutas ocupacionais, nutricionista, educador físico, psiquiatras, psicólogos, conselheiros em dependência química, enfermagem, serviço social, entre outros.

    Fonte: Secretaria de Estado da Saúde

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    Matérias obtidas no site do Movimento Propaganda Sem Bebida.

    O Movimento Propaganda Sem Bebida é uma iniciativa da “Aliança Cidadã pelo Controle do Álcool”, articulação de entidades da sociedade civil, sem personalidade jurídica e sem fins lucrativos, que reúne igrejas, universidades, serviços de saúde, entidades de defesa do consumidor, entidades médicas, conselhos profissionais, sindicatos, ONGs que trabalham com dependência química, grupos de apoio e auto-ajuda, entidades de defesa de portadores de patologias, dentre outras.

    Uma das metas da “Aliança Cidadã” é a aprovação de legislação que limite a publicidade de álcool nos meios de comunicação e em eventos esportivos, culturais e sociais, semelhante à legislação atual que restringe as propagandas de cigarro.

    O Movimento Propaganda Sem Bebida é liderado pela Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas, da Universidade Federal de São Paulo – EPM/Unifesp) e pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).

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Qualquer mensagem ofensiva, que demonstre preconceito ou ignorância sobre o assunto tratado, não será aceita.
O objetivo aqui é fazer crescer o debate e unir forças. Peço então bom senso a todos que aqui postarem.
Obrigado, Luiz Fernando Prôa