sexta-feira, 13 de novembro de 2009

As lições que a caminhada em Copa nos trouxe!

Respondendo ao e-mail de meu amigo Jason Sagara,
sobre como havia sido a caminhada Chega de Hipocrisia!


Foi boa, dentro da realidade que eu já esperava. No pico da concentração, e contando as pessoas conhecidas que passaram para deixar um abraço, acho que umas 80 pessoas. A caminhada partiu com cerca de 50. Claro que não dá para concorrer com o Rio 40º, praia lotada, Maracanã cheio e a indiferença já além da lotação. Confesso que eu mesmo dificilmente iria, o sol estava mais forte que a lua cheia. Mas fui acordado de uma letargia que parece contaminar todos nós, acordado pelo pior dos pesadelos. E não vi outro caminho senão passar a mensagem à frente. Pesadelos deste tipo têm atingido muita gente, bota gente nisso. O que acontece e que me assusta é o crescimento veloz, em aceleração, e cada vez mais incontrolável, dos casos de violência, não só nas grandes cidades como no interior e na fronteira. Esse é um pesadelo que vai invadir a vida de um número cada vez maior de pessoas que, como eu até alguns dias atrás, via a violência pelos veículos da mídia, como se não fosse no meu país, no meu bairro, dentro da minha própria casa.

O mais importante desta caminhada foi saber que demos o grito, que ele aos poucos vai atingindo mais gente e que os órgãos de informação têm sido essências ao ampliá-lo e com isso cumprido sua função social. Peço desculpas aos amigos por não ter conseguido lhes dar a atenção devida, meu foco neste instante é mandar o recado para cada vez mais ouvidos. É necessário que as pessoas pensem sobre seu papel na sociedade e, quem sabe, sensibilizem sua alma e venham nos ajudar.

Havia dito, em uma das cartas que escrevi, que iria caminhar nem que fosse sozinho. Foi bom saber que não estou mais só nessa caminhada. Muitos amigos e poetas apareceram, amigos novos e grupos ou movimentos que lutam por um mundo melhor, além de tevês, jornais e rádios, e não esquecendo de um ingrediente importante, a emoção que demonstrava cada um dos presentes.

A mensagem está circulando. Uma coisa que me tocou muito, e chamou minha atenção, foi a grande teia que se estabeleceu na Internet. Uma imensa corrente humana ligou uma infinidade de redes sociais e a mensagem correu longe. Foi até surpresa receber um torpedo de um xará, o Luiz Fernando, pouco antes de começar a caminhada, que de Londres mandava dizer que estava com a gente com toda a energia de seu ser. Precisamos fortalecer e ampliar essas redes sociais, elas são um instrumento essencial para que nossa voz possa ser ouvida e assim tenhamos o poder de mudar a realidade e ser agentes de nossos destinos. Um quarto poder para fazer com que os outros três não continuem seguindo na contramão de nossos desejos.

Ouvi de tudo naquele dia inclusive relatos muito fortes, outros até gozados. Como o que escutei de um dos amigos, dizendo que teve gente que não veio por que eu era contra o álcool e como gostavam de beber não iam caminhar por isso. Não dá para ser hipócrita, muito menos carregando a bandeira do Chega de Hipocrisia! Também gosto de tomar uma taça de vinho ou uma latinha de cerveja, mas o faço muito raramente, por opção. Nossa luta não é diretamente contra as drogas, mas contra o que as cercam. A violência, o descaso com as vítimas e a falta de uma discussão séria, sem preconceitos ou “viagens” neste assunto tão preocupante que é a guerra que se está travando: onde muito mais gente morre que os números de mortos que as drogas ilegais produzem, onde muito mais gente morre da droga legal, o álcool, do que das ilegais. Alguma coisa está errada, neste caso, e não quero ser o dono da verdade, mas enquanto me derem atenção vou lutar para que este assunto esteja na ordem do dia. As vítimas estão aí, nas ruas, nas comunidades, no trânsito, nos quartéis, no seio da família. É preciso encarar essa situação de frente, com máxima urgência e recursos. Há alguns anos o demônio da inflação foi dominado pelo Real (R$), ajustes foram feitos e a economia deixou de ser doente. Estamos agora precisando cair na real, agir, e domar este demônio muito mais poderoso. O que só depende de nossa ação e de vontade política para isso. A sociedade precisa dessa cura!

Ah, até a poesia apareceu! Poesia de repúdio ao que nossos olhos e mentes captam! Poetas nunca deviam fazer poemas desse tipo! Mas o que fazer? São tempos de guerra aqui no Rio e não é muito diferente da realidade que se vive em que todo nosso país.

Grande abraço, meu mano Sagara, e a todos que lerem este texto. Precisamos de outras caminhadas como essa, mas sem que seja organizada no calor de uma tragédia, e sim fruto da ação coletiva, junto com todos aqueles que não querem mais este demônio, chamado hipocrisia, sentado sobre sua corcunda.


Luiz Fernando Prôa

3 comentários:

  1. Luiz, sigo acompanhando sua luta. Mudanças são urgentes e necessárias mas ainda temos muito chão, pois falta informação da verdade e consciência crítica para as pessoas. Não desanime e que muitas vozes se juntem a sua.
    Abraço grande

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  2. Luiz,estamos pagando o preço do massacre que fizemos na Guera do Paraguai, do que vive o Paraguai hoje senão de contrabando de drogas, armas, munição , cigarro etc.... para o Brasil, as pessoas estão sem DEUS no coração, por isso estamos vivendo essa tragedia. Mas temos que ter esperança sempre.
    José Carlos

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  3. Oi Prôa,
    aqui estou pra saudar teu blog e mais ainda tua decisão. São as causas que nos animam.
    Infelizmente, faz-se passeata por tudo, e na real elas não têm muita repercussão, conforme temos visto. Nem os pedidos de paz, segurança ou defesa dos direitos individuais são contemplados pelas autoridades. E as pessoas, a gente sabe, só se mobilizam quando enfrentam o problema cara a cara. Fora isso, acham que as coisas só acontecem com os outros.
    Mas nada disso é motivo para esmorecer.
    Um grande abraço

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